“A minha preocupação é penetrar mais na natureza. Há artistas que se aproximam da máquina; eu quero a natureza, quero dominar a natureza. Criar com a natureza, assim como outros estão querendo criar com a mecânica. Não procuro a paisagem, mas o material. Não copio a natureza”. (Krajcberg)
Um museu com uma arquitetura moderna, apresentando uma exposição totalmente atual e futura, conduzido por um chão vermelho (“tapete vermelho”). Lugar lindo onde o MAC está instalado, o espaço físico do MAC se torna pequeno e pequeno em relação a tamanha beleza a sua volta. Mas acho muito interessante o fato do Mac, abrir as portas para esta exposição como esta escrito na entrada “Ano Mundial da Árvore 2011”, pois ele é rodeado de natureza, árvores, sendo uma escolha totalmente ligada a exposição central, pois mostra uma outra realidade, mostrando e levando a reflexão a outra face da natureza, no caso, a que poucos vêem, além de ser totalmente contemporânea em relação ao tempo, pois se fala muito em preservação e sustentabilidade.
A exposição central é de Frans Krajcberg, artista plástico e ambientalista de 90 anos, com uma intensa relação com a natureza. Uma verdadeira denúncia sobre as queimadas de árvores, feitas por homens ou pela própria natureza frente a destruição do mundo causado pelo homem através de fotos, construções de reciclagem dos troncos, árvores queimadas e vídeo.
A exposição começa pelas fotos ao lado direito com a denúncia das queimadas. A foto que abre é impressionante, pois através do trágico momento a foto se torna bela, pelo contraste das cores, e por mostrar a árvore resistindo mesmo dentro de uma queimada. Foto bem chocante que inicia a exposição. Ao tirar foto deste quadro, a foto era tão real, que quem vê a foto que tirei da máquina pensa que eu estava no momento registrando a cena.
Depois, parede com as construções “menores”, com pedaços de troncos e o acréscimo de argila, com o qual Frans complementava modelando e depois pintava com pigmentos naturais (não usa tinta), o vídeo mostra como é feita essa pintura, ele joga os pigmentos naturais e depois joga água. Uma obra plástica nesta parede dava um efeito de papel quando queimado nas pontas, na minha leitura simbolizando a árvore, que na verdade é dela que o papel sai, interligando as metáforas.
Na outra parede o belo da natureza, árvores diferentes que conseguiu registrar com seus muitos anos de vivencias com a natureza. Como uma que crescia para baixo e parecia um animal de grande porte.
No meio, construções independentes, que se sustentavam por si só. Havia quatro construções em cima de um círculo com muitos carvões. Dando várias interpretações a quem assistia.
“A minha preocupação é penetrar mais na natureza. Há artistas que se aproximam da máquina; eu quero a natureza, quero dominar a natureza. Criar com a natureza, assim como outros estão querendo criar com a mecânica. Não procuro a paisagem, mas o material. Não copio a natureza”. (Krajcberg)
Frans transforma a árvore queimada, ou seja, que passa pelo elemento fogo que não serve mais para nada em obra de arte, e da uma nova reformulação. Algo útil, gerador de emoções, sensações e reflexões. Transformando em árvores, com flores, folhas, frutos, transformando-as em belas, mostrando valorizando os detalhes como de um tronco que lá estava e mais pareciam serem esculpidos nele.
“O simbolismo do fogo marca a etapa mais importante da intelectualização do cosmo, e afasta o homem cada vez mais da condição animal.” (Chevalier)
Frans retrata na matéria sua história, pois sempre esta PASSANDO PELO FOGO e tendo que se regenerar (época da Segunda Guerra Mundial em que teve que fugir para sobreviver, mas viu seus pais sendo mortos, num momento mais atual roubaram tudo dele, principalmente objetos de valor simbólico, que segundo ele foi maior perda que o dinheiro, entre outros momentos difíceis), expressando através de seu trabalho, suas obras, sua reformulação, buscando o equilíbrio (a técnica de construção fala muito disso) depois do fogo, diante de tantas situações complicadas. É em função da atitude do homem com o fogo que estimula todo este processo que Frans leva a uma conscientização, reflexão e denúncia e quem sabe ações.
Sua construção envolve modelagem com a argila (barro), para complementar e dar o efeito que ele gostaria de dar e a pintura como já tido antes e utilizava da fotografia e vídeo.
“...podemos nos perguntar sobre o que falam os trabalhos de Vanderlei Lopes. Eles emulam o instante fotográfico, limiar entre a existência e a dissolução das coisas. Tempos incertos só cabem na imagem, pois nela nos damos conta do quanto o instante pode ser fantasmagórico, ao se fixar aquilo que ainda existe e simultaneamente começa a passar, inexistir. E também porque imagens são capazes, mesmo que por um ardil fugaz, de fingirem em certas ocasiões existir além ou aquém do tempo.”(Guilherme Bueno)
No segundo andar, a exposição de Vanderlei Lopes: “Horas Seculares Instantâneas”, titulo já intrigante, mas é realmente o que ele quer passar, a noção de tempo, o que ocorre ou deixa de existir nele ou como pode ser simulado. Pinturas sobre cerâmica em formatos gregos estão dispostos, pois a cultura grega ainda tem seu peso sobre os dias atuais e é muito lembrada, com cenas do mundo atual como queimadas, explosões, aviões e natureza, do qual estão sobre um jogo de espelhos, que além de refletir os vasos para baixo, projeto por causa da luz e sombra em cima, dando até um tamanho maior dos objetos. E colocando questões de tempo da natureza e tecnologia juntos em ação.
Ele se utiliza assim como Frans dos recursos de fotografia, vídeo e modelagem. Um vídeo modelando o bloco de argila, dando várias formas e mostrando como um objeto pode modificado na linha do tempo e outro desenhando com as mãos pólvoras sobre o chão, formando uma árvore, do qual depois tacava fogo fazendo menção as queimadas das árvores e mais uma vez ao tempo que essas transformações acontecem. E no fim o que fica é aquele desenho só que cinza, uma crítica deste triste fim de “cinzas”. Uma foto mostra uma catedral feita de bronze de cabeça para baixo, com a parte de dentro oca, sem preenchimento, sugerindo o abismo interno, como foi descrito pelo curador da exposição.
Ambos falam da questão do tempo, denunciam, questões contemporâneas do homem e seus efeitos sobre a natureza, como as queimadas mostradas por ambos. Porém a questão de tempo é retratada de forma diferente. Frans denuncia o tempo das queimadas para levarmos a reflexão do futuro, para fazermos algo enquanto a tempo, já Lopes não tem preocupação nenhuma com o futuro, e sim com o registro do tempo, ele trata do presente, do momento e seus movimentos em alguns momentos faz menção ao passado, como os dos gregos, mas levando-os para o presente. Exposições reflexivas e que pretendem gerar mudanças a nível de Sustentabilidade e preservação da natureza.